quarta-feira, 21 de março de 2012

Corumbá, filha das cores e dos calores



Resgate da História e Manifesto para Crescimento de Corumbá-Ladário

Escrita por Arthur Emmanuel





Do Dicionário ao Cordel 
Escrevam para rezar, rimar e pendurar as almas de palavras
A serem amarradas no Cordel da animada Feira de Zés de Coco
Da voz de mistério do Ramalho e do sorriso do Pandeiro
De Campina Grande, cidade menina do mais tropeiro São João do Mundo,
E para atenção dos que bebem sangue de Beterraba,
Do jardim em uma cadeira de balanço com cheiro de raiz de Suassuna
À distância de 3600 quilômetros  
Que o abecedário não erra quando diz
Que o local é terra distante e abandonada
Mas do que for de parada, apagada, sem sabor e infeliz.
Aqui é Corumbá da Xangri-Lá,
Ao além do horizonte de céu e água perdidos 
Do paraíso quéchua-tupi.


Corumbá-Ladário são cores e diversidades do Brasil-Caboclo
Retocadas em nutridas inspirações de lendas
De longa distância de fundo azul dos profundos maciços das Américas
E de figuras reais como do animal Urubu-Rei e da planta Vitória-Régia.
Em que pessoas de verdade viram folclore como frei Mariano
Dividindo relatos com o Minhocão do rio Paraguai
Seu próprio nome Corumbá se confunde com o ser Curupá, 
Criatura guarani fantástica protetora da Erva-Mate
E o Mão-Grande da Nhecolândia.
O próprio mundo de areia de Nheco já é uma legenda.
Um mar dos sertões que submergia o Uruguai 
Formava uma baía com Corumbá-Ladário
E tinha foz na Amazônia dividindo a América do Sul 
E em forquilha, outro braço de mar saindo no Caribe
Poderia ser o Mar dos Xaraiés do heroico Cabeza de Vaca.
Contam que esse mar interno ao secar,
Com a elevação vulcânica da Cordilheira dos Andes,
Criou o deserto de sal de Uyuni espelhado da Bolívia.
Até os animais galopam contos fantásticos
Como um Cavalo Crioulo que ao ser vendido em distantes paragens,
Conseguiu, com um faro e pulmões poderosos, retornar à fazenda 
Onde quando guacho recebia doses carinhosas de leite em mamadeira
Da criança pupila do fazendeiro,
Atravessando rios e desertos do Chaco na saga da volta.

Do Pantanal Fantasia à Testemunha do Chaco Inca
Pantanal também é nome fantasia porque não temos um pântano permanente, temos a planície alagável.
Na vizinhança, ocorre o Chaco, o ecossistema do Território de Caça 
Para o nome brindado pelos Incas, os ancestrais dos peruanos e bolivianos, 
E se estende por vários países latinos vizinhos.
Em especial, o vale brasileiro apresenta do solo rachado e de rugas 
Feito de um período sem chuva e com o peão a Cavalo
Até o nível de água movediça, ameaçadora e inacreditável em outro tempo chuvoso
Engolidora de postes rurais de energia tal como a gigante Sucuri
Que deixa apenas os chifres de concreto de fora da bocarra,
Do encargo do peão tocando a boiada à canoa.


Cidade branca do Cari
Do Angico Branco,
Do jeito cari oca de falar,
Do peixe branco Curumbatá,
De brumas leitosas e de alva longa chuva
Sobre a vegetação ciliar em cortina à distância,
Em suas baforadas de fumaça das alarmantes queimadas,
Nas construções militares e na parte do solo calcário,
Porque da Física, o giz branco se faz da soma de luzes.

 
Cidade do  Mate Verde
Em um cenário noturno da praia do rio, entre conversas de trancoso 
De pescadores, caçadores, mentirosos 
Podemos experimentar as tortas de Sopa Paraguaia, 
Preparadas na manteiga fervente de Porco Monteiro,
Refrescadas pelas sugadas com canudo bomba 
Do refrigerante tupiniquim do Mate Tereré, colhido das águas do rio.
Das fagulhas de Cafereré em gelo 
Às lanças de incensos de Canela afugentando a mosquitada 
Sob as notas de som do voo rasante do Biguá Mergulhão,
Com camalotes dançando em giros como baianas por entre a fogueira.
Conta-se que da índia Iari que se transformou em árvore da erva,
Por um encanto ao preferir não seguir a tribo para enraizar e dar energia ao pai,
A Erva-Mate, a Caa-Iari, e seus filhos Bá,
Caa-Iari Bá pintou a verde Corumbá.
E Corumbá seguia como a tartaruga Carumbé
Alimentando corpos e vidas. 

Coa Ara Bá 
É a folclórica Corumbá.
Ao ver o Guerreiro mirim jogando o brinquedo
Com a pequena lança de ponta de Caraíba adornada 
Com plumagem fina de Maritaca no corpo da pequena arma,
Sendo amigo da Tribo, o Axé Pajé pinta o rosto 
E imita o gesto para mais um ensinamento de fé
Olhando as penas reluzindo-se em transparências luminosas de íris,
Nos brilhos aquosos e borbulhantes sobre a Baía Negra,
Então vem a lição do Pajé Pai dos Pajés 
Com o Terena tendo a miração que Coa é Das, Ara são Cores e Abá é Filha.

Filha das Cores é o significado de Arara no branco de Coa Ara Abá.
Quem assiste ao Pôr dominical no porto de Corumbá-Ladário
E sua explosão musical, fractal e colorida
Da despedida brincalhona do sol com as nuvens,
Consegue entender a justiça e o motivo festivo do nome,
Colorida é a cidade e tingidos são os berçários 
Das campinas molhadas do Colhereiro Rosa 
E do casal de Papagaios aquarelados,
Matizadas como o bico multicor do Carcará americano
E com o leque de penas da Jandaia cearense.


O Nascimento de Coraci
Em um folguedo de Quadrilha Junina de Milho na abóbada Qualhada de Pipocas estrelas,
O além entidade Obaluaê-Sol estava brincando e namorando com Nanã-Chuva
E em altas horas da noite, da empolgação Aguardente do casal,
O Sol fez engravidar a Chuva com seu raio de luz de fresta mais amena
Sendo ouvidos os sons de Sanfona e de Traques de outros brincantes da festa à distância.
Com essa peleja, contando o tempo do Relógio-do-Sol e passando a gravidez da Chuva,
Veio a nascer no céu, espontaneamente e com suavidade do orvalho,
As luzes Arco-Íris, Co-Írisi, Corici,
Coraci, a filha da lendária natureza e futura mãe das cores.
Do vir com luz sem alcance de parteira ama-de-leite,
Mas com a presença da fauna de meio mundo de água,
O evento não passou em branco, envoltou-se em cores.
Os bichos ambulantes, ao se arrumarem como convidados do liquidificador luminoso,
Foram ganhando, quanto mais se aproximassem do céu, dos tons de tão fortes e primários 
Até se chegar às neutras nuances para os bichos 
No fim do centro mais escaldante da Terra.
A madrinha Arara mais voadora e afoita, que era cinza,
Acabou com cores exuberantes no ar,
Mais de 600 espécies de dinossauros criaram asas e evoluíram para aves,
Balançando-se no camarote de vento.
Tuiuiús, de baixos como parentes genéticos dos Urubus, 
Esticaram os pescoços e pernas de curiosos.
Mosquitos grandes e pesados como Escorpiões ficaram pequenos, leves e insistentes
Como brisas ferventes e rajadas de agulhas de vento de poeira e sal de Mossoró,
Mesmo a madrinha e tímida Onça, que era parda do hemisfério norte,
Ficou com rosetas de pétalas negras dos pingos de uma suave chuva amanda 
Com a pele sob o fulgor dos reflexos de Ipês-Amarelos,
Com os irmãos Tigres andinos em rasgados de pratas sobre casaco de ouro.
E ainda o Tamanduá ficou Bandeira,
O padrinho Bagre pincelou-se entre Pintado e Cachara
Com os ofuscamentos dos rebojos-d'água.
O Jacaré girou de felicidade e com a barriga para cima ganhou o Papo-Amarelo.
Tatus tornaram-se parafusos e Bolas para girarem mais rápidos para fora de suas tocas.
Até o minúsculo cordão de metazoário Corumbella sentiu a vibração, adquirindo pernas
E virando Centopeia do aquém-solo
Para sair bem mais a tempo do evento celestial acontecer.
A Sucuri, que era do tamanho de uma cascavel, 
Virou um monstro colossal de língua olheira.
As Formigas que tiveram uma canoa em seu caminho
Desenvolveram a capacidade de detonar a madeira e virar Cupins.
A Capivara desligada não compareceu, e de castigo, deu-se um nó no estômago 
E continuou pastando Capim e até o próprio estrume para melhor digestão.
O Urubu mesmo paramentado com o capacete de Tartaruga, 
Por ter chegado muito perto do sol, bem mais do que a Arara, teve tonteira
E nunca mais se recuperou, passando a dar voltas no ar por toda a vida
Fazendo, em uma espiral de voo neste nascimento,  
Creme-craquerilhar a sua proteção de cabeça ao bater no rochedo.
percevejo Letócero, por não sair da água, continuou na forma pré-histórica
A ponto de ser confundido com um baratão nos dias de hoje.

E Coraci indiferente ao alvoroço de seu nascimento, 
Muito colorida, mas sem abrir os olhos,
Descansou em transe, suavemente, 
Nos arabescos de alfenins mornos e derretidos de nuvens altas
Muito acima das copas de Bocaiuvas,
Com os quase pontos de bezerros de Búfalos no sopé do Rabicho
Mascando o doce de seus chicletes de casca e caroço.
Mas a Chuva mãe como uma altiva figura do mundo de água, 
Em menos de dez dias de festas de São Pedro,
Já estava recuperada do parto, brincando em família celestial.

O Nascimento de Corumbá-Ladário
No entanto, com o olhar espantado que se fez
Da testemunha do tempo do crescimento de Coraci,
Os suaves e verdes capinzais do Mar-Doce-dos-Xaraiés
Rasgaram-se em cerrados flamejantes,
Experimentando as queimadas e cinzas do fogo fátuo de pólvora,
Vindas de jorros de Baleias acorrentando-se no rio Espanha Paraguai
Com velas e tatuagens em suas costas.
Aconteceu que uma das bolas de canhões da nau Paraíba
Alcançou o céu do Sol do Arco-íris
Atingindo e fecundando a despreocupada Coraci.
Então, ficou do conhecimento de todos, a partir do coração da América do Sul,
Que Corumbá-Ladário nascera da união
Da fluidez colorida dos seres reais e das visões de uma terra única
Com o abrupto fogo de ouro vermelho espanhol da canhoneira fluvial.
Coimbra-Corumbá o batismo de um forteDepois, outros irmãos de Corumbá também nasceram,
Que foram Corumbiara, Cuiabá, Corumbá de Goiás, 
Corupá, Caiobá, Charabá, Corumbataí,
Guarany Kaiwá.
Nasce o Guri, o Curu, o que se avoluma, do Tupi Nheengatu.
Mas os nascimentos são de outras lendas dos tempos coringas
Que não serão vivificadas agora.


Um Punhado de Memória e de Páginas em Branco da História
De gente do sol e chuva de toda parte,
Do início, meio e fim do mundo,
Dos Paraíba, Para Mar e Aba Cabra,
Dos europeus cabras do mar,
De olhos verdes e azuis como seus salgados mares,
Com brilhos castanhos e desérticos dos cristãos novos,
E até que com passadas de viradas seculares 
Entre casamentos caboclos, mulatos e cafuzos,
Foram rasgando ao fio do aço de facões o Grosso Mato de norte a sul
Al ir por la codiciada plata.

Na terra de Caminha, em que se plantando tudo dá,
Semearam o Forte Coimbra, a primeira construção branca de Corumbá-Ladário.
Do povoamento militar e de Marinha de Guerra da Tríplice,
Com o pós-guerra,  a cidade veio a ser conhecida pelo comércio internacional 
Com o veio da navegação de rio,
Mas em uma ironia lógica, o milagre econômico 
Da construção de estradas de rodagem
Ligando Norte ao Sul com a BR-163 a passar por Cuiabá-Campo Grande
E Nordeste a Norte com a Transamazônica BR-230
Como um sinal da cruz entrega Corumbá-Ladário
Fez tornar obsoletos o lento transporte fluvial do rio Paraguai com o mundo.
Para pior, o charque artesanal, principal moeda corumbá-ladarense,
Sucumbiu com a concorrência gelada da frigorífica.

As Lições a Aprender e Aprendidas de Corumbá-Ladário
Porém, nem tudo está perdido,
Investimentos em meios de rodagem com a Bioceânica,  
Poderá, se amparada em criação de leis abrangentes de zona de exportação,
Voltar a ser um marco logístico do Mercosul.

A prática do turismo portuário, da preservação ambiental e patrimonial
E da segurança nacional da fronteira
Somadas à pecuária Nelore nascida do manejo do Tucura,
Com o extrativismo mineral
São as grandes águas do dia, movendo o moinho Corumbá-Ladário.

Finalmente, como descoberta do Arquiteto da Gestão Ambiental,
Que é autor dessa peça escrita,
Em sendo próxima estrategicamente, 
Como evidencia o mapa mundial geológico das placas tectônicas, 
À crina de calor magmático da Cordilheira dos Andes
E de baixa altitude em relação às montanhas andinas,
A cidade calcária  e de calor quase vulcânico poderá, 
Se explorar a geração da energia Geotérmica, 
Não-fóssil, limpa e ecológica,
Ser capaz de produzir abundância energética
De forma mais sustentável e econômica do que outros países fazem,
Com os poços geotérmicos com o vapor do solo impulsionando usinas 
E distribuindo energia em linhas de transmissão,
Lembrando a força das caldeiras de seus saudosos barcos a vapor
E a liberando da obrigação de hidrelétricas.

Cidade Maravilhosa é o Rio de Janeiro que tanto nos inspira,
Cidade Incrível será Corumbá-Ladário com a energia Geotérmica
Como será a conquista do oeste brasileiro 
Na corrida do ouro vermelho do calor do magma 
Para o crescimento de nossos povos 
Que terão um gigante sertão virando um mar de possibilidades.

São João Bosco já profetizava em 1883, documentando em italiano,
Terra Promessa, de incalculável riqueza mineral, 
De latitudes austrais de 10 a 20 graus,
Onde Corumbá-Ladário deita eternamente em berço esplêndido,
Sonhando sobre seus travesseiros de matagais verdes e lençóis de água doce.



Corumbá-Ladário

Que a descoberta de seu futuro próximo seja escrita
Com a palavra de calor que se sabe de cor
Desde seu passado mais remoto


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